Problema de Nunes agora é Marçal, não Boulos

A disputa pela sucessão municipal na capital paulista pareceria caminhar sem grandes novidades. Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (PMDB) eram, até então, os principais competidores e traziam consigo a expectativa de que as eleições paulistanas repetiriam a polarização política que vem caracterizando a eleição nacional desde 2018, opondo Lula e Jair Bolsonaro, padrinhos políticos de peso de ambos. O debate que se colocava, inclusive nas pesquisas eleitorais, era qual dos padrinhos era o mais rejeitado e qual teria maior poder de transferência de votos.

Nesse cenário, a campanha de Ricardo Nunes esperava colar em Guilherme Boulos o rótulo de extremista de esquerda para conquistar o eleitor mais ao centro e atrair a direita e a extrema direita com o apoio de Bolsonaro. O comitê de Boulos buscava vincular Nunes ao bolsonarismo e, com isso, repetir o desempenho da esquerda na eleição presidencial e para governador em 2022, quando Lula e Haddad foram vencedores na capital paulista.

Todavia, a pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (22), onde Pablo Marçal (21%) aparece empatado tecnicamente com Guilherme Boulos (23%) e à frente numericamente de Ricardo Nunes (19%), trouxe más notícias para os antes favoritos, sobretudo para o atual prefeito. Tal resultado vai obrigar as campanhas de Boulos e Nunes a reverem rapidamente suas estratégias de ação em decorrência da rápida ascensão eleitoral de Marçal —que desidratou, principalmente, as intenções de voto no atual prefeito junto aos eleitores que se identificam com o bolsonarismo.

Na rodada anterior do Datafolha, publicada em agosto, Marçal tinha 29% de intenção de votos entre os eleitores bolsonaristas, ante 38% do atual prefeito. Agora, o influencer chegou a 44% e Nunes caiu para 30%. O prefeito não apenas perdeu 8% de intenção de votos nesse grupo como viu eleitores, provavelmente antes indecisos, migrarem para Marçal. Ou seja, Nunes, que antes buscava o apoio de Bolsonaro sem ter o ex-presidente ativamente na sua campanha para não afugentar eleitores de centro, agora vai precisar que ele dê declarações de apoio, suba em palanques e se mobilize para não ver o que ainda resta de seus apoiadores mudando de lado.

Para o atual prefeito, trazer Bolsonaro para o centro das atenções de sua campanha implica o risco de perder eleitores moderados antipáticos ao bolsonarismo para Tabata Amaral ou mesmo em direção a Boulos. Para Jair Bolsonaro, o novo cenário também é uma jogada de risco. Não se mobilizar por Nunes pode significar perder parte importante do bolsonarismo para Marçal —e este se tornar rapidamente a principal liderança desse grupo.

Por fim, o fenômeno Marçal, mesmo antes do último Datafolha, já concentrava as atenções de seus adversários. Isso fez com que três candidaturas até então muito competitivas, que viviam se digladiando (Boulos, Datena e Nunes), se recusassem a comparecer a um debate organizado por um veiculo de imprensa em protesto contra a postura da campanha do influencer em relação a eles —algo inédito em debates eleitorais, já que antes apenas o primeiro colocado se dava ao luxo de não dar as caras em eventos dessa natureza.

Entretanto, apesar do risco que implica não saber a dimensão do teto eleitoral de Marçal, o ex-coach surge como o adversário dos sonhos de Boulos pelo fato de ser mais viável vencê-lo no segundo turno do que um eventual enfrentamento com Nunes. Por qual razão? Nesse cenário de turno final, a campanha de Boulos pode ganhar um tom mais moderado do que a de Marçal em razão de tudo que se coloca sobre a postura do influencer e mesmo em relação aos riscos que ele pode enfrentar na Justiça Eleitoral.

Assim, o candidato psolista espera contar com os sólidos simpatizantes mais a esquerda e atrair os eleitores de centro que, via de regra, são avessos a cenários que apontam para aventuras que podem trazer instabilidades.

TENDÊNCIAS / DEBATES

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