O nadador e medalhista olímpico Bruno Fratus, que está nos Jogos de Paris como comentarista da Globo, diz que a expulsão da atleta Ana Carolina Vieira da competição “é uma situação chata” e que “não gostaria que a natação brasileira fosse lembrada por esse fato”.
“Não é a primeira vez que a gente tem um caso de indisciplina dentro do time. E é importante que haja a implementação de um código de conduta. Representar o Brasil e vir até uma Olimpíada é um privilégio. Isso requer o maior nível de respeito e disciplina possível”, afirma o atleta à coluna.
Ana Carolina teve sua expulsão anunciada pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil) no domingo (28). Segundo a entidade, a atleta deixou a Vila Olímpica sem autorização junto com o namorado, o também nadador Gabriel Silva Santos, na noite de sexta-feira (26). Enquanto ela foi expulsa, ele sofreu uma advertência.
A decisão mais dura contra a nadadora ocorreu depois de uma ríspida discussão entre ela e a comissão técnica. O motivo da briga teria sido a decisão de retirar a nadadora Maria Fernanda Costa, a Mafê, da equipe que disputaria os 4 x 200 m livre, em que há revezamento dos atletas.
Segundo profissionais que acompanham a rotina na Vila Olímpica ouvidos pela Folha, a discussão incluiu “gritos e dedo na cara”. Após a repercussão do caso, Ana Carolina disse que comprovará que foi vítima de uma injustiça.
“É importante que se lide com casos de indisciplina de maneira exemplar, para tentar se criar uma cultura de time, né? Eu gosto muito de usar o exemplo dos Estados Unidos. Eles estão lá pelo time deles, pelo país deles, e não para nadar para si próprio”, segue Fratus.
O atleta, que conquistou a medalha de bronze nos Jogos de Tóquio, anunciou em abril deste ano que não participaria das disputas na capital francesa após passar por uma série de lesões e cirurgias. Ele, então, foi contratado pela Globo para integrar o time de comentaristas da emissora.
Fratus entrevistou o nadador Guilherme Costa, o Cachorrão, após o atleta ter ficado de fora do pódio na disputa dos 400 m livre na natação no sábado (27). Na transmissão ao vivo, o comentarista ficou visivelmente emocionado e consolou o competidor. O episódio repercutiu entre internautas nas redes sociais.
“Naquele momento, eu decidi adiar a minha participação como comentarista e continuar sendo o Bruno, que é o companheiro de equipe e amigo do Gui. Ali, não vi um atleta chegando na zona mista, vi um amigo que precisava de um abraço”, descreve Fratus sobre a interação entre eles.
“A minha vontade era de botar ele no ombro, carregar o moleque. Até agora me emociona um pouco falar sobre isso. É pesado. Olimpíadas são pesadas, a dedicação emocional da coisa é muito pesada. Mas eu acredito que o Gui vai sair mais forte disso.”
Fratus afira que não conversou diretamente com o competidor depois do episódio e que tem evitado manter contato para não interferir na concentração dos atletas.
“Estou segurando a onda um pouco, até na minha vontade de interagir. Em todas as competições que eu participo, eu gosto de ficar isolado. É necessário respeitar esse espaço e dar privacidade”, explica.
Fratus tem como treinadora a velocista Michelle Lenhardt, sua mulher. Os dois se conheceram na rotina de atletas e estão juntos há mais de dez anos. A gaúcha participou dos Jogos de Pequim-2008 e passou a treinar o marido no fim de 2016.
Na época, Fratus estava frustrado com seu desempenho nas Olimpíadas do Rio, e Michelle também não sabia para qual caminho seguir após uma incursão pelo mundo das competições fitness.
Fratus diz que ter Michelle como treinadora é “algo maravilhoso, mas, ao mesmo tempo, desafiador”. “No começo a gente tinha essa doce ilusão de que seria capaz de separar a relação [profissional da parte familiar]”, completa.
“Você tem que saber administrar tudo bem. Muitas vezes aquele relacionamento hierárquico que existe entre treinador e atleta pode interferir e botar o dedo no casamento”, alerta. “Mas é gostoso. Eu gosto muito. Não faria diferente.”
O casal, porém, estabeleceu uma regra: não falar de natação 24 horas por dia. “Assim como um casamento, o esporte olímpico não é algo que você desliga em algum momento. É um projeto de vida. Então a regra que a gente tem, por mais engraçado que seja, é ter um momento em que vamos parar de falar [sobre o esporte]”, conta.
O nadador é cuidadoso ao falar sobre o próximo circuito olímpico. “Sempre fui um cara de fazer uma coisa de cada vez. Nesse momento, estou focado no que eu tenho que entregar aqui em Paris. Agora, se quero estar em Los Angeles? Com certeza absoluta. Mas é algo que é impossível planejar agora”, finaliza.
com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH