Magda Chambriard é indicada para assumir comando da Petrobras, após atritos de Prates com governo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comunicou ao presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, sua demissão do comando da estatal em uma conversa no fim da tarde de ontem no Palácio do Planalto. A demissão ocorreu pouco mais de um mês após Prates entrar em rota de colisão com uma ala do governo na crise dos dividendos, a respeito do valor dos ganhos que seria distribuído aos acionistas. E um dia após a petroleira divulgar o resultado do primeiro trimestre, quando o lucro caiu 38%.

Prates se despediu ontem mesmo de seus diretores e comunicou à equipe que Magda Chambriard será a nova presidente da estatal. Ela foi diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) entre 2012 e 2016, no governo Dilma Rousseff.

Na noite de ontem, a Petrobras informou que recebeu comunicado do Ministério de Minas e Energia aprovando a saída de Prates, com o “pedido de encerramento antecipado de seu mandato como presidente da Petrobras de forma negociada”e a intenção de indicar Magda para os cargos de presidente da companhia e integrante do Conselho de Administração da estatal. A indicação será submetida ainda ao Comitê de Pessoas e ao Conselho de Administração.

Lula conversa com Dilma

Antes de demitir Prates, Lula conversou, nas últimas três semanas, sobre o futuro da Petrobras com Sergio Gabrielli, que comandou a estatal entre 2005 e 2012, nos dois primeiros mandatos de Lula, e com a ex-presidente Dilma Rousseff.

De acordo com auxiliares, Lula decidiu pela demissão por ver problemas na gestão de Prates à frente da Petrobras. A saída vinha sendo cogitada desde o início de abril. Mas a avaliação é que Lula prefere, em muitos casos, deixar o assunto esfriar antes de tomar uma decisão. Por isso, postergou por mais um mês a saída de Prates no cargo.

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Na interpretação de conselheiros e executivos, a ida de Magda para a estatal representa uma vitória da linha intervencionista do governo sobre a empresa no momento em que o presidente Lula pressiona a petroleira a licitar e acelerar obras polêmicas como o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

Segundo um aliado histórico de Lula, a futura CEO foi apadrinhada por lideranças do PT da Bahia, como o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner.

Antes de atuar na ANP, Magda foi funcionária de carreira da Petrobras por 22 anos. Ela é engenheira e atua como consultora na área de energia e petróleo.

Última mensagem de Prates

Em uma mensagem enviada a aliados por WhatsApp, em tom de desabafo, Jean Paul Prates afirmou que sua missão à frente da Petrobras “foi precocemente abreviada na presença regozijada de Alexandre Silveira (ministro de Minas e Energia) e Rui Costa”.

“Não creio que haja chance de reconsideração”, lamentou o CEO demissionário. “Só me resta agradecer a vocês e torcer que consigam ficar ou se reposicionar. Contem comigo no que eu puder fazer”.

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Para analistas, o mercado deve reagir com desconfiança à demissão do executivo. Segundo Bruno Komura, analista da Potenza Capital, Prates vinha tentando fazer uma gestão moderada, de olho tanto no acionista quanto nos planos do governo:

— Ele estava atendendo tanto a pedidos do governo de investir mais e diminuir a frequência do reajuste dos combustíveis, quanto estava fazendo uma gestão dos dividendos alinhada ao esperado. Com a troca, cria-se um clima de desconfiança.

No Planalto, porém, a constatação era que também havia um conflito conceitual entre o que o Lula defende para a estatal e o modelo que estava sendo implantado por Prates na companhia.

O presidente da República é favorável a ampliar os investimentos em infraestrutura, como parques de refino e na indústria naval, e critica o que considera uma lógica de focar apenas em resultados financeiros positivos para a empresa. Outra área em que ele defende aportes é a fabricação de fertilizantes. Além de cobrar a execução de grandes obras pela companhia.

Pela primeira vez desde que assumiu o cargo, Prates não participou diretamente ontem da teleconferência de resultados da companhia e se limitou a enviar uma mensagem gravada.

Papéis despencam em NY

A demissão de Prates foi noticiada após o fechamento da Bolsa, mas em Nova York, os recibos de ações da companhia, as chamadas ADRs, chegaram a cair mais de 9%. Por volta das 21h, os papéis da companhia recuavam 6,98%, a US$ 16,69.

Mais cedo, no Brasil, as ações fecharam em baixa de 2,72%, refletindo a queda no preço do petróleo e o desempenho da companhia no primeiro trimestre.

Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, criticou a mudança:

— A demissão mostrou que a interferência política é enorme na companhia. Não pode uma companhia ter tantos presidentes em tão pouco tempo.

Com a nova troca, a companhia terá o sexto presidente desde 2019.

Processo de fritura

O CEO da Petrobras enfrentou nos últimos meses intensa fritura interna no governo, acumulando disputas com Costa e Silveira, que almejavam ampliar o poder sobre a companhia.

O desgaste, que se prolongou ao longo de todo o terceiro mandato de Lula, se agravou após Silveira conceder entrevista à Folha de S.Paulo admitindo o conflito com Prates e dizendo que não abriria mão de sua autoridade como ministro sobre a companhia.

A fritura ocorreu em meio ao impasse sobre a distribuição dos dividendos extraordinários da Petrobras.

Como informou o colunista Lauro Jardim à época, a situação ainda se agravou depois que Prates declarou à colunista da Folha Monica Bergamo que havia pedido uma reunião “definitiva” para tratar sobre a sua fritura no cargo. No Planalto, o movimento foi encarado como uma tentativa do CEO da Petrobras de emparedar Lula, o que teria desagradado ao petista.

Em abril, Lula chegou a convidar o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, para assumir o comando da petroleira. Mas pesou a favor da permanência de Prates o apoio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), como publicou o blog de Malu Gaspar.

Prates defendia a proposta da diretoria de distribuir aos acionistas 50% dos recursos que sobraram no caixa após o pagamento dos dividendos regulares — R$ 43,9 bilhões. Já o grupo de Silveira defendia segurar todo o dinheiro em um fundo de reserva para melhorar as condições da empresa de obter empréstimos para investimentos. Lula arbitrou a disputa e determinou que os conselheiros indicados pela União votassem contra o pagamento.

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