Funcionários e clientes lamentam morte de dono do Bar do Mineiro no primeiro final de semana sem proprietário; Bar do Arnaudo fecha as portas

O fim de semana da Rua Paschoal Carlos Magno, 99, Largo dos Guimarães em Santa Teresa amanheceu mais triste. O endereço de ponto de encontro de amigos, com muita alegria e confraternização, o tradicional Bar do Mineiro continua com a comida boa e cerveja gelada, mas agora sem seu grande comandante, Diógenes Paixão, que morreu na última terça (23) aos 84 anos. Clientes lotaram o estabelecimento nos últimos dias para relembrar as histórias do saudoso dono do bar e homenageá-lo.

Frequentadora do comércio há 25 anos, a chef de cozinha Flávia Quaresma escolheu o local não apenas para comemorar seu aniversário, mas também para prestar homenagem ao seu amigo que partiu.

— Estamos brindando por Diógenes e relembrando tanto momento bacana que a gente teve aqui com ele, desde quando o bar não tinha nem teto. Ele era muito fofo e um contador de causos maravilhoso. Assim como eu, também adorava arte. Ele tinha sempre muita generosidade e carinho com a gente — conta Flávia.

Outro cliente assíduo do local, o arquiteto Guilherme Leuzinger Milanez jamais esquecerá as palavras amigas de Diógenes e os momentos que passaram juntos, em mais de 20 anos frequentando o bar.

— Diógenes sentava com a gente direto e nos convidava para a casa dele para ver as obras de Volpi (o comerciante era colecionador das obras do artista). Até hoje guardo um banquinho de madeira que ele me deu. Já era nossa rotina ir para o bar, sentar e conversar. A gente batia papo durante horas. Ele era um poço de informações interessantes. Quando soubemos da morte dele a gente chorou, foi bem emocionante — destaca Guilherme.

O Bar do Mineiro, fundado por ele em 1992, se transformou num ponto de encontros casuais e passou a ser frequentado por moradores, artistas e turistas. Ao longo dos anos, o proprietário passou a disputar com as obras de arte penduradas na parede o posto de principal atração de seu próprio bar.

O estabelecimento deve ser gerenciado pela família de Diógenes, que está em Carangola (MG), cidade natal do comerciante, resolvendo pendências após a morte do empresário. Cleuber e Alexandre Paixão que devem continuar na administração do bar.

Funcionários do local tentam manter a alegria que esteve presente em tantos anos de funcionamento, mas a emoção toda conta nas vezes que lembram do patrão boa praça.

— O Bar do Mineiro sem Diógenes é bem difícil. Nesse tempo todo dava pra ver o prazer e a alegria dele. Ele sempre me falava que o Bar do Mineiro era o palco dele. Depois que ele partiu, claro, se perde um pouco da essência do Bar do Mineiro — lamenta o maître Ariano Sousa, que trabalha no bar há 18 anos.

— Quando você perde alguém que é próximo, ainda mais para mim que trabalho com ele há muito tempo, é bem difícil. Além de patrão, ele era padrinho da minha de filha de 4 anos. Criei um vínculo não só de funcionário e patrão, mas também um laço forte de amizade. Ele me ajudou muito. Vai fazer muita falta, mas deixa um legado vivo. Ele não está fisicamente, mas sinto ele espiritualmente — afirma.

Diógenes estava internado havia um mês no Hospital Quinta D’Or, na Zona Norte do Rio, antes de seu falecimento. O corpo dele foi velado e enterrado em Carangola (MG), sua cidade natal.

Próximo dali, outro bar também sofreu a perda de seu dono. Arnaudo Gomes, do Bar do Arnaudo, faleceu no sábado (20). Ao contrário do Bar do Mineiro, que permanece em pleno funcionamento, o Bar do Arnaudo fechou as portas. O lugar está em obras para um novo comércio que abrirá em sua área: o Bonde Mais Café e Bar

Despedida de Diógenes

Na última terça-feira, a partida de Diógenes Paixão, dono do famoso Bar do Mineiro, em Santa Teresa, deixa uma legião de clientes — e fãs de sua história de vida — órfãos. Nas redes sociais, amigos, entre eles estrangeiros que conheceram o bar que é referência em Santa Teresa, lamentaram a perda. O comerciante, de 84 anos, estava internado havia um mês no Hospital Quinta D’Or, na Zona Norte do Rio. O corpo dele foi velado e enterrado em Carangola (MG), sua cidade natal.

Segundo a coluna de Ancelmo Gois, amigos e parentes de Diógenes pretendem fazer uma homenagem ao dono no comércio que leva o seu nome. Além disso, por conta do falecimento, o Bar do Mineiro fechará as portas por alguns dias.

Diógenes Paixão é lembrado com carinho por centenas de figuras da gastronomia carioca. E seu saber não estava restrito ao comércio e à premiada cozinha do bar que se transformou num ícone de Santa Teresa. Colecionador de histórias e obras de arte, o mineiro encantava a todos que paravam para ouvir seus “causos”. “Amava quando ele sentava na nossa mesa para uma ótima conversa. Vou sentir muitas saudades das suas histórias e do seu carinho”, disse a chef Flavia Quaresma, na internet.

E o mineiro era um apaixonado pelo Rio. Passou 62 anos na cidade, pela qual nutriu um “amor à primeira vista”. Assim que deixou Carangola, nos anos 1960, decidiu se aventurar no lugar que classificava como “a cidade mais bonita do Brasil”. E, aos risos, dizia “Sou carioca! O único detalhe é que eu nasci em Minas”.

Paixão morou no Centro e em Copacabana, até que há mais de 50 anos atrás se estabeleceu em Santa Teresa. O comerciante tinha um apego especial às belezas naturais da cidade e mantinha um apartamento em Ipanema, na Zona Sul, para aproveitar as tardes de sol na praia.

A boemia, por sua vez, era mesmo em Santa Teresa. O Bar do Mineiro, fundado por ele em 1992, se transformou num ponto de encontros casuais e passou a ser frequentado por moradores, artistas, turistas. Ao longo dos anos, o proprietário passou a disputar com as obras de arte penduradas na parede o posto de principal atração de seu próprio bar. Ex-marchand, era um dos maiores colecionadores de quadros de Alfredo Volpi no Rio de Janeiro, especialmente os da série Bandeirinhas. Paixão e Volpi se conheceram na década de 60, e o artista pintou alguns quadros para o amigo.

Outras obras de arte originais, entre as quais quadros de Raimundo Colares, Rubens Gerchman, Rubem Valentim, entre outros, foram conquistados com o salário de Diógenes Paixão da época que atuava como funcionário do Banco do Brasil.

Em 2015, Mineiro foi tema de um filme de Norbert G Suchanek, “Diógenes Kunst – Um filme sobre o mineiro de Santa Teresa”. No filme, soltava declarações sobre sua amizade com Roberto Burle Marx, viagens e a paixão pelas artes. Anos antes, em 1988, ele foi homenageado pela TV Corcovado num episódio do programa “Arte é investimento”, de Soraia Cals.

Nos últimos tempos, antes de sua internação, Paixão parecia se despedir, pouco a pouco, da vida que se deliciava ao viver. Segundo amigos, ele caminhava de sua casa, na Rua Aarão Reis, em Santa Teresa, até uma espécie de dependência próxima ao bar. Ali, contemplava as paredes cheias de lembranças que colecionou ao longo da vida.

Inscreva-se na Newsletter: Notícias do Rio

Inscrever

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *